A série “O grito: Origens” é mais uma tentativa da Netflix de emplacar uma das suas produções estrangeiras. O repertório é extenso e conta com uma série de produções boas e outras nem tão boas assim. Eu mesmo confesso em ter um pouco de dificuldade de acompanhar as narrativas que não sejam hollywoodianas. Aquelas cujos enredos são bem simples, onde o telespectador é levado pela mão durante todo o momento. Assumo que certas partes do meu cérebro foram massacradas com os enlatados de ação dos anos 80. Mesmo assim, ainda os adoro.
Até os filmes do Nolan, que são mega complexos, tem sempre aquele momento e que diretor pega o telespectador pela mão e explica o enredo tudo bonitinho. Já as produções estrangeiras são um pouco mais complicadas. Como por exemplo Dark. Como eu sofri, e como eu pesquisei para entender o que estava acontecendo. Essas, as estrangeiras, por mais que soe estranho pois somos brasileiros e tratamos as produções norte americanas como se fossem nossas, são as que mais desafiam. O que “mata” é a maneira como a história é contada. Ou seja, a narrativa.
Esse é o caso de O grito: Origens. Alguns foram atrás da série pelo saudosismo da franquia iniciada em 1998 e conta com mais de 13 filmes, todos eles de gosto muito duvidoso. Para ser sincero, consumi somente as produções americanas e confesso que não fiquei nem um pouco seduzido pela franquia. Nem tive vontade de ver as produções japonesas. Eu cheguei nessa série por carência.
Estava eu saturado de “foundfootages” de baixa qualidade (esses sim adoro, quanto pior melhor) quando em um dia chuvoso recebi uma simpática mensagem da Netflix em meu celular me indicando a série. Coloquei na minha lista e esperei a oportunidade certa. Longe de ser a melhor série de horror de altíssima qualidade, mas gostei muito. Muita coisa ficou em aberto, mas acredito que há um potencial a ser explorado em futuras temporadas. Tem tudo que há de legal nas produções asiáticas. Casa assombrada, espíritos zombeteiros, terror psicológico, momentos de desconforto, cenas altamente bizarras que só os japoneses tem um toque especial para fazer. Tem uma cena do bebê na delegacia que é complicada demais de digerir e descrever. Tudo isso dá um tempero a mais para a série.
E tem a narrativa. E fica aqui o meu aviso que a partir daqui o spoiler vai rolar solto.
O desenvolvimento do enredo de “O grito: Origens” é o ponto que mais incomodou a audiência. Apesar sempre ter uma data pontuando em que ano acontece a história, demarcar bonitinho a passagem do tempo, os fatos não são colocados de maneira muito bem clara. É como se os eventos acontecessem de maneira atemporal. As personagens todas têm uma ligação com a casa e por isso são perturbados, até mesmo o escritor revela que morou naquela casa em tempos passados. Os flashbacks se misturam interagindo com as pessoas do presente, e isso acontece mais de uma vez. O que passa a ideia de acontecer algo atemporal naquela casa assombrada. Um espaço que está além dos limites do tempo, assombrado por um espírito injustiçado que só sabe causar dor aos demais. Um lugar onde o passado interfere no presente.
E no final fica bem claro, pelo menos é o que eu acho, que algumas passagens vividas por alguns personagens são na verdade trechos do livro do escritor. Ou seja, não dá pra saber muito bem o que é fato real o que é romantizado pelo escritor. Fiquei com essa dúvida quando o escritor e o investigador discutem sobre o telefone que foi achado na barriga da mulher.
Seria bem legal tudo isso, mas é claro que não passa de uma especulação. Posso estar esperando demais, mas só as temporadas futuras dirão. De qualquer forma, a série já se demonstra válida ao causar tal discussão. E isso que é bom nas narrativas estrangeiras. Elas tem o poder de te fazer pensar.