Meu nome é Jack e tenho 33 anos…
“…Meu nome é Jack Joshep tenho 33 anos. A mesma idade do meu pai quando ele desapareceu. Eu era casado…o nome da minha esposa era Susie Joseph. A gente ia ter um bebê em breve. Um menino. Mas eu fugi. E agora estou sozinho. Meu nome é Jack Joseph e costumava ser um soldador subaquatico. Eu ia ser pai. Mas agora sou um nada. E não estou em lugar algum…”
É com esse monólogo que abro esse humilde artigo acerca de uma das obras mais fantásticas dos últimos tempos. “O soldador subaquático” é uma obra de ficção que traz a tona temas que são muito comuns, como por exemplo paternidade (cá entre nós, não está nada fácil criar um ser humano nos dias de hoje), relação entre pai e filho, e uma bela reflexão sobre a vida e morte. Tudo muito lindo.
Jeff Lemire, talvez um dos maiores expoentes das hqs atuais, acertou em cheio ao trazer todo esse debate utilizando a vida de um soldador subaquático. Aliás a profissão causa tanta estranheza quanto o dia que Jack terá pela frente. Uma pessoa quebrada assim como todos nós.
Jack é uma pessoa comum, com um emprego extremamente perigoso, e com problemas mal resolvidos em seu passado. E um certo problema em relação ao dia das bruxas que pode parecer gratuito de início, mas ganha corpo no decorrer da trama. Poderia ter tentado uma vida diferente em cidades maiores, era qualificado o suficiente para isso, mas optou por morar em uma cidade portuária pequena próxima a uma plataforma de petróleo.
Como se tudo isso não bastasse, o protagonista tem um a necessidade de querer ficar sozinho, mergulhado em seus próprios pensamentos, de preferência no fundo do oceano. Onde ninguém mais pudesse perturbar a sua paz. Seu emprego é visto como uma fuga da realidade, o que torno Jack muito humano. Afinal de contas, quem nunca quis fugir de uma realidade dura?
Uma vida pacata, um trabalho perigoso. Tudo absolutamente dentro dos conformes. Já não bastasse tudo isso, ainda tem a questão da paternidade.
Ás vésperas do nascimento de seu filho, o soldador resolve voltar ao trabalho e mergulhar fundo para tentar esquecer de seus “demônios”. Era para ser mais um dia típico, tão comum possível como qualquer outro dia possa ser embaixo da água. Tudo mudou quando Jack encontrou um objeto no fundo do mar responsável por desencadear uma série de fatos que beiram a loucura. Como se fosse um episódio de
“Além da imaginação”. Uma epifania. Uma viagem onde o passado e presente se misturam para as peças se encaixarem em um quebra cabeças bizarro que é a vida do pequeno soldador. Ou a vida de qualquer um de nós.
E nesse pot-purri de sentimentos o leitor se pega torcendo pelo carismático soldador. O grande mérito do roteiro é fazer as pessoas se importarem com a pessoa. Uma espécie de empatia. Eu mesmo me peguei algumas vezes tenso, ansioso para descobrir o desfecho e torcendo para que fosse o melhor possível. Isso só porque o leitor se identifica com o protagonista. Jack somos todos nós. Seres humanos quebrados em busca de respostas, de encaixar as peças desordenadas. Em busca do entendimento do todo.
Você se sente só, assim como o soldador a explorar suas lembranças, dialogando com os seus diversos “eus”. Ou melhor, no diálogo com o próprio pai, que diga-se de passagem é de cortar o coração.
Enfim… “O soldador subaquático” é uma hq completa. Roteiro excelente de Jeff Lemire, que afirmou expressar a sua experiência de paternidade em sua obra, e uma arte invejável. Essa é uma daquelas que obras que me fazem sentir inveja por não conseguir escrever algo parecido, muito longe disso.
Um abraço a todos e uma excelente leitura.
Título: O Soldador Subaquático
Autor: Jeff Lemire
Data de Lançamento: Novembro / 2016
Acabamento: Brochura, Papel Offset 120g, Preto e Branco
Formato: 26,5×17,5
Número de páginas: 224