Conversa de café: Blade Runner 2049

23 outubro 2017 Falando de Filmes e séries
donnarita - srmarido - conversa de cafe -filmes - cinema - blade runner 2049
Mais de trinta anos passaram…

Queridos e queridas, eis que mais uma vez fui surpreendido e quebrei a cara novamente.
Assim como aconteceu em Mad Max, fiquei um pouco incomodado com um possível novo filme no  universo de Blade Runner. Um puro preconceito ingenuo de minha parte, ingênuo. Não acreditava ser possível revisitar esses clássicos sem causar perdas irreparáveis. Mas dessa vez aprendi que tudo depende de um bom diretor. Mesmo assim o risco era muito alto.

Acompanhe o bate papo pelo youtube:

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Imagina se os envolvidos decidissem explicar logo no início se Deckard é um replicante ou não. O que felizmente passou longe, para o bem do cinema. Acredito que existem elementos em filmes clássicos que não devem ser explicados. Algumas coisas são melhores se terminadas somente na cabeça dos telespectadores ou dos leitores, se for o caso.
Felizmente eu estava errado mais uma vez, assim como o ocorrido em MadMax, e fui surpreendido por uma obra de arte que honrou o seu predecessor de 1982.
A película traz a história do blade runner “K”, que em uma de suas investigações acaba descobrindo um segredo capaz de desestabilizar a ordem vigente, que mexe com a razão de ser e existir. Um segredo que simplesmente possibilitaria abrir a discussão: “O que é um ser humano?” ,“O que seria capaz de tornar um ser em humano?”. Questionamentos extremamente densos que trabalham mais do que as questões fundamentais: “De onde somos?”, “Qual o sentido da vida?”. Tudo muito profundo.

Aliás, a resposta da questão fundamental do universo é 42, diga-se de passagem.
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O que é um ser humano? O que é um replicante?
Alguns filósofos e sociólogos, que agora já não me recordo bem o nome graças ao alcoolismo, teorizaram que o homem só é homem quando em sociedade. Isso é explicado pelo fato de absorvermos os valores sociais já criados anos antes de nosso surgimento. Como todo bom ser humano, crescemos e absorvemos esses valores, porém temos um pouco de dificuldades e sofremos quando tentamos escapar, ou abrir mãos de alguns deles. Um homem criado em meio ao animais não absorveria esses valores, logo não seria um homem, seria algo muito parecido como um animal.
Para isso temos que ter em mente que tanto para história quanto para a sociologia que o homem se separou da natureza há algum tempo atrás.
Idealização, objetivação, interiorização… Esses são os três passos para a formação de uma vida social. Valores são idealizados, colocados em prática e absorvidos. Uma vez absorvido fica difícil escapar da sociedade, ou levar uma vida baseada em outros valores. Todo esse rompimento causa uma dor.
Isso caracteriza um homem. Mas e quando um ser sintético se torna também capaz de absorver esses valores? Seria ele um ser humano também? Será que a sociedade aceitaria esse novo ser como igual? 
Afinal, os replicantes também estavam em busca de respostas para questões primordiais, todos em busca de um criador. E tudo isso culmina com o épico final “lágrimas na chuva”, onde existe a aceitação, a redenção, a libertação. Roy Batty libertou uma pomba ao morrer no final do filme, uma alusão ao espírito, a alma. A figura do humano e do replicante se mistura, a ponto de não conseguirmos diferenciar uma coisa da outra. 
Ao final nos pegamos desconfiados, sem saber se Deckard é um replicante, ou não.
Blade Runner é excelente ao brincar com essas ideias. Misturar os conceitos, criar dúvidas. Tirar telespectador, ou o leitor, de sua zona de conforto. Muito obrigado por tudo, Philip K. Dick.
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Spoilers…

E graças a todos os deuses e deusas – ou não –  e a Villeneuve, nenhuma dessas questões foi respondida. Muito pelo contrário, as mesmas questões apareceram ainda mais problematizadas acompanhadas de novas indagações. Se tudo fosse mastigado e respondido ia ficar mal feito tal qual Prometheus. Ia ficar uma merda sem limites.
Ryan Gosling homão da porra interpreta o replicante blade runner K. Em determinado momento, quando acredita ser a peça central de toda a trama, começa adquirir características humanas como por exemplo a ira, a revolta, a frustração. Absorveu a ideia de era um órfão que levara uma vida inteira em meio a sintéticos, por isso tornara-se um. Acreditou ser um humano, e até mesmo os testes passaram a indicar uma certa oscilação em seus resultados, e por um determinado período de tempo tornou-se, comportou-se como um humano. A velha história da rebelião dos replicantes de 1982.
A trama ganha corpo quando K descobre que um filho nasceu do amor entre Deckard e Rachel. Isso mesmo, o casal gerou um filho que seria agora todo o pilar do enredo. Afinal de contas, um replicante sendo capaz de gerar um filho iria abalar toda a ordem vigente. Não seriam mais tratados apenas como objetos, escravos, mas sim uma outra espécie que lutaria por reconhecimento e espaço. Caos total.
Qual seria o papel dos humanos nessa Nova Ordem? 
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Deckard é o elo entre os filmes. Não que fosse necessário, mas seu personagem estabeleceu uma conexão entre os filmes. O antigo caçador de androides nada mais é do que um eremita, recluso, um rebelde que já não suporta mais o convívio social. Como se um funcionário público com mais de vinte anos de casa. 
Sua participação é importante, pois acaba por dar um fechamento ao final estendido do filme de 1982, aquele mesmo final em que ambos fogem em um carro em direção as montanhas para ter uma vida feliz. Um final feliz que sinceramente não combina muito com o estilo denso, noir e deprimente que predominou durante toda a película, 
Ao mesmo tempo em que Harryson Ford fecha o primeiro filme pode ser considerado também um leque, uma ponta para uma possível continuação.
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E não poderia fechar essa postagem sem falar do messianismo existente no filme. A Tyrel acabou falindo com a rebelião dos modelos Nexus 6, para dar espaço a uma nova corporação controlada por Neander Wallace. Ao contrário do antigo criador, Wallace procura não apenas construir novos modelos de replicantes, mas sim aperfeiçoar, a criação de um novo homem, um novo ser, uma evolução. Seria ele um messias. Por isso, mostrou lodo de cara interesse na criança.
Até a maneira como o personagem de Letto se comporta passa a ideia de um messias, uma espécie de Jesus pós apocalíptico. Sua participação deixou uma ponta para um provável rumo de um próximo filme.
Reza a lenda que para entrar na personagem, Jared teria usado lentes de contato que o deixaram sem visão. Não duvido nada vindo de um ator tão completo e fantástico.
Blade Runner 2049 é uma experiência fantástica. Com toda a certeza, Villeneuve conseguiu honrar a memória da película de 1982 e de todos os amantes de distopias. Tao fantástico que com certeza deixei de falar de pontos importantes, coisa que acontece. 
Fique à vontade para participar da conversa e deixar aqui a sua opinião. 
Um abraço a todos e até a próxima com mais uma conversa de café.

2 Comentários

  • Jared realmente tem cara de Jesus ocidental, kkkk. Eu não lembro de ter, algum dia, assistido o antigo filme. Quando ele era comum eu não curtia o gênero. Vou dar uma chance.

  • Excelente post do filme é maravilhoso. Ryan Gosling é um homem muito carismático e Professional, se entrega a cada um dos seus projetos. Em trailer Blade Runner 2 amei tudo, faz um ótimo trabalho, fiquei emocionada, fez uma atuação maravilhosa, o filme tem uma grande historia e acho que o papel que ele interpreta caiu como uma luva, sem dúvida vou ver este filme novamente.


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