Recentemente, no mês de maio, eu assisti a um curso de encadernação da Tereza Pires em que ela falou bastante da busca de materiais alternativos para a encadernação, nessa pegada mais ecológica, voltada a sustentabilidade. Isso me fez refletir sobre meu processo de produção e desde então comecei a fazer algumas pesquisas relacionadas aos materiais que eu uso em meus trabalhos.
Quero deixar claro que estou compartilhando com vocês os resultados das minhas pesquisas e que o que eu escrevo aqui é minha opinião, não detenho a verdade e nem é essa minha intenção. O objetivo é realmente compartilhar meus achados e minha postura diante do meu trabalho, ou seja você tem todo o direito de concordar, discordar e deve pesquisar também e tirar suas próprias conclusões.
Eu procuro não usar couro em nenhuma das minhas peças e isso é uma opção pessoal minha. Não uso roupas de couro e nenhuma outra peça deste material. Apesar disso, não sou radical e antes que você pergunte, sim, eu como carne e sei que minha atitude de não usar couro não vai acabar com a morte de animais, até porque as pessoas continuarão comendo carne e o couro é um subproduto do corte. Bom, mas não é na questão alimentar que vou entrar…
O couro é a pele curtida de algum animal, que depois deste processo, não vai mais passar pela decomposição. O processo de curtimento é composto por várias etapas que usam diversos produtos químicos, inclusive, metais pesados. Depois desta etapa de curtimento, ainda existem outras, como tingimento e secagem (saiba mais
AQUI).
No lugar do couro, a minha opção sempre foi utilizar o “couro sintético”, que inclusive eu compro com este nome. Mas durante esta minha pesquisa, descobri que existe uma lei que proíbe o uso do termo “couro” para qualquer produto que não seja exclusivamente de pele animal (a Lei é a nº 4.888, que é vigente no Brasil desde 1965).
E aí surge o problema, o que chamamos de “couro sintético” também não é nada amigo da natureza. A maioria dos materiais assim denominados são produzidos com PVC, um derivado do petróleo!!! Então, só podemos considerar um material feito de plástico, ecológico, se ele estiver sendo feito com plástico reciclado.
Minha opção pelo “couro sintético” para tentar ser mais “sustentável”, caiu por terra…
Pensei comigo então: “ok, me resta ainda o tal do “couro ecológico”… Fui atrás e para minha surpresa couro ecológico é couro! Oi? Como é? O couro chamado de ecológico também é produzido com pele animal, principalmente a pele de bovinos, mas a diferença está no processo de curtimento, que utiliza materiais biodegradáveis e naturais como alternativas menos poluentes, porém alguns especialistas dizem que todo tipo de curtume, gera algum poluente…
Bom, depois de tudo isso, confesso que fiquei um tanto encafifada em relação ao uso destes materiais… Eu não nego que os trabalhos com couro, qualquer um deles, ficam lindos e eu tenho usado tiras de “couro” sintético em algumas costuras aparentes (como a da foto de abertura deste post) e amo o resultado, mas agora preciso processar bem essas informações e optar pelo que melhor corresponda ao meu objetivo de contribuir de alguma forma com o meio ambiente e poder usar o termo “sustentável” de forma efetiva e não só como um apelo comercial duvidoso…
E você, também tem essas preocupações? Vou gostar de saber sua opinião.
Beijitos.
UPDATE: desde o mês de maio de 2015, estou utilizando couro de descarte para fazer algumas peças, como sketchbooks e fechos de alguns cadernos. O couro de descarte é aquele não utilizado pelas grandes empresas, por serem sobras ou por terem defeitos. Sei que o fato de ser uma forma de reaproveitamento não muda a forma como o couro é produzido, mas a opção é por utilizar um material que seria descartado, ou seja, que é lixo…
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Alguns links pra você saber mais:
Carolina Rodrigues
Em 05.06.2014